06 setembro 2003

zapata

No Abrupto acabo de ler o azedo comentário de JPP ao programa que acabou de passar na RTP2.
Pura Propaganda, diz Pacheco Pereira, admito que sim e direi bem feita.
A mim não foi o tom propagandista que me tocou mas antes alguns pormenores que se revelaram:
O subcomandante Marcos: no seu tom calmo e esclarecido lê-se nas suas palavras um ideal e isso, concorde-se ou não com ele, é algo que já remete para saudade.
Depois custa a crer que o subcomandante seja o lobo que vestiu a pele do cordeiro, ou então é um lobo mais convincente do que o lobo mau o foi para a avozinha. Faz pensar.
Quando estive na Austrália, bem vi os aborígenes deambulando pelas ruas alcoolizados e marginalizados. Revi esses rostos nas marcas dos punhados de indígenas mexicanos.
Por vezes tropeçamos em Portugal com as condições em que vivem os ciganos, também me lembrei deles.
Nos bairros de lata de Lisboa vêm-se os negros, e outro mundo dentro do nosso mundo.
No meio disto nós os vitoriosos da história enfiamos a cabeça na areia rotulando como propaganda algo que nos incomoda?
Há que tomar precisamente lições e perceber os movimentos sociais evitando os custos da revolução.
Nem tudo será redutível à lógica das cotações da bolsa, à macroecononomia, ao sprint dolar/euro nesta Terra feita de tantas gentes.
Um social-democrata, não assiste à sociedade impávido, tem é uma metodologia de eficácia sem perder a noção do real.

02 setembro 2003

Bibliografia 2

Mea culpa: por inexperiência nestas andanças, deixei passar o comentário que se dignou fazer o Veto Politico, justamente a propósito da Bibliografia.
Antes demais vou incluir as vossas sugestões (é já uma utilidade prática deste Sumo de Laranja).
Depois, o comentário :
Concedendo-nos o benefício da dúvida, diz o Veto Politico que o passado não deve ser olvidado, mas sugerir a leitura de um programa com quase trinta anos, anacrónico e, acima de que tudo, escrito pela necessidade pragmática de afirmar o PSD como partido de centro-esquerda e social democrata, é fraca leitura para quem quer seja (ou queira aderir) ao PSD de hoje
Na sequência da anterior provocação que fiz ao Nuno, reafirmo o meu entendimento da questão: ninguém poderá entender verdadeiramente o presente de uma instituição sem saber, pelo menos, o que diziam os seus textos fundadores. Por maior que tenha sido a evolução da prática política, algo marca distintivamente os nossos partidos políticos e isso são, entre outras, as diferenças na sua génese.
Acaso achará o Veto Político que alguém poderá perceber esta estranha forma de ser que é Portugal em 2003 sem primeiro ler a nossa História e as deveras anacrónicas figuras de D.Afonso Henriques, o infante D.Henrique e demais da galeria dos notáveis?
Parece-me que se confunde governo (temporário, condicionado à gestão pragmática da coisa pública) com a instituição partido, que reflecte no seu presente os 30 anos de história que carrega.

Aliás, já reparou que o nosso (meu) partido, insiste em ser PSD, quando a conjuntura seria muito mais propícia à sua antiga denominação PPD?
Obrigado pelas suas achegas.
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Sobre a bibliografia

Actualizei a Bibliografia da social-democracia com o livro do prof. Marcelo rebelo de Sousa que merecerá, um dia com mais vagar, a devida análise.
A propósito, o nosso amigo e companheiro Nuno (aproveito para retribuir a outro Nuno, da arte de opinar, os cumprimentos blogistas ) fez-me outro dia um comentário, ao vivo (continuamos a aguardar os teus escritos), sobre a Bibliografia. Notei nele, como adivinho em muitos outros companheiros, um certo incómodo perante algumas referências. São as origens do pensamento social-democrata e a caminhada, não adianta esconder nem acompanhar por uma bolinha de aviso para os mais novitos, a caminhada iniciou-se à esquerda.

010500037

Estranho título para este post.
Hoje não era para deixar aqui desabafos, mas quando o nosso colega Opções Inadiáveis se digna a falar deste sumo e anuncia convicto que "o tempo se encarregará de encontrar mais diferenças e mais semelhanças entre os nossos blogs", talvez o tom intimista do post de hoje se justifique..
Em arrumações lá em casa, encontrei o meu cartão da laranjinha: era o 010500037.
Lembro-me que na altura escrevia-se Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões!. Afinal era mesmo verdade.
Era puto, mas desde que vi os tanques da polícia de intervenção ao pé da minha escola primária, por causa de um congresso da oposição democrática, em 1973, que nunca mais deixei de acompanhar o assunto dos grandes.
O certo é que depois também não me atrairam, antes pelo contrário, os que berravam para todo o lado e procuravam um fascista em cada esquina.
As palavras ao mesmo tempo determinadas e moderadas de Sá Carneiro e do PPD, cairam-me bem.
Foi assim.
Depois, mesmo sendo adolescente mantive-me atento à "guerra fria" e, acreditem, não foi preciso ver caír o muro de Berlim para descobrir o lado negro do socialismo real.
Logo, não precisei de mudar.
Pode um miúdo de 10, 11, anos ter "consciência política" ? ou somos a certa altura do PSD, do PS, do PP, como somos do Beira-Mar, do FC do Porto ou de outro qualquer de menor expressão?
Se calhar é um pouco das duas coisas, mas neste caso uma diferença é evidente: sou do Beira-Mar porque o meu pai me ensinou a ser, mas já quanto a ser do PSD...sempre fui pelo meu pé.