09 novembro 2003

Nos 90 anos de Cunhal, Adeus Lenine

Nem de propósito, calhou de ir ao cinema ver o Adeus Lénine quando se comemoram os 90 anos de Álvaro Cunhal.
Como veria Álvaro Cunhal um filme como Adeus Lénine?
A verdade é que,ao contrário da senhora alemã que em estado de coma não assistiu à queda do muro e depois foi poupada à realidade por um filho extremoso que montou todo um cenário virtual para evitar um segundo choque à sua mãe, a Àlvaro Cunhal estava reservado um outro papel: o de assistir à queda dos mitos comunistas e de todo o império soviético, sem que nada nem ninguém lhe permitissem evitar a realidade.
Ele sabia, ele sempre soube muito bem o que era o comunismo, para lá da cortina de ferro.
Ele, ao contrário daqueles leste-alemães que viviam sob uma ficção, conhecia as duas realidades, e no entanto...
Comunismo, socialismo, significou muito mais do que a expressão de toda uma sociedade carenciada, deprimida, uma opressão sem apelo.
Álvaro Cunhal conhecia tudo isso, mas acreditou que esse era, apesar de tudo, o caminho.
Uma vez tive o prazer de assistir a uma conferência de Cunhal, sobre ..arte, no museu de Aveiro. Foi uma delícia ver aquele veterano discorrer sobre arte com uma autoridade e vivacidade surpreendentes.
Respeito Cunhal, pela sua densidade cultural, pela sua coerência, pela sua coragem de "anti-fascista".
Sempre estive na oposição às suas ideias políticas, mas imagino quanto doloroso foi para ele verificar que a História ainda lhe reservava um lugar na primeira fila para assistir ao adeus a Lénine feito por milhões de cidadãos em todo o Mundo que descobriram a liberdade.

Nova Democracia?

Parece que finalmente se deu o parto do tão falado novo partido, o do DR. Manuel Monteiro.
Ridículo, sobretudo porque agora não há desculpas - a história política recente já mostrou o destino que está reservado a estes partidos sem uma clara origem ideológica, mantas de retalhos onde tudo cabe, o destino é uma página em branco.
Quem se lembra do PRD, do Partido da Solidariedade e outros fenómenos do género?
Se cada personalidade política resolvesse criar um partido cada vez que perde eleições internas, então não havia partidos que chegassem para satisfazer tamanhos egos.
Nas expressivas declarações de Manuel Monteiro, a Nova Democracia é..."o partido dos que vão de autocarro para o trabalho e enfim, também dos que vão de carro" . O lider não poderia expressar de forma mais elouquente o que aquilo pretende ser- tudo e nada.
A renovação da Democracia é necessária, mas não passa por inventar novos partidos, só porque as pessoas são ambiciosas e não foram satisfeitas pretensões de uma certa individualidade.
Não admira que o Dr. Monteiro não se preocupe em dividir o seu próprio espaço político - não foi isso que sempre andou a fazer afinal?