04 janeiro 2004

Dor de alma

Em Portugal não se discute a Europa, a governação, a moeda única, os serviços de saúde, o modelo de educação, o desemprego, a administração pública, o papel do Estado. Em Portugal, agora, a azáfama coloquiall é de outra ordem. Discute-se a mesquinhez e a barbárie.
(...)
O português acredita na influência e na "cunha";o português não acredita no esforço e no método.
O português adora bater em quem tem mais sucesso, mais dinheiro ou mais dotes do que ele; o português adora achincalhar, ofender e agredir, às escondidas.
No reino de Portugal, algo está mal e sempre esteve. Os acontecimentos dos últimos meses, que actuam como revelador do que somos e julgávamos ter deixado de ser, ameaçam-nos a constituição cívica e moral? Nem isso.
Na desolação onde morre a inteligência e vicejam a estupidez e a inveja de certo discurso mediático, todo o discurso é um discurso de desgosto e desconsolo.
Homens de inspiração lenta reclamam um Portugal menos português e sobretudo estrangeiro.
São sempre os que falharam esta pátria que reclamam, com urgência, uma outra. Ingratos.


Não não é da minha autoria: são passagens da Pluma Caprichosa, crónica que Clara Ferreira Alves assinou, na Revista do EXPRESSO.
Por acaso não é escrita recente, é de 1996. A realidade essa, parece-me hoje bem mais adaptada a esta dor de alma que sentia Clara Ferreira Alves.
Na altura admirei a prosa, tanto que a guardei, mas achei-a um tanto excessiva.
Hoje acho que merece reedição.

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